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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sonho do ensino superior entra de vez na cesta de consumo do brasileiro

No Brasil, a expansão do ensino superior privado se apresenta com uma dinâmica muito peculiar, que está relacionada ao próprio desenvolvimento do país. Com o crescimento da economia e a ampliação da chamada classe C, o sonho do ensino superior entra de vez na cesta de consumo do brasileiro, afirmou a docente da Faculdade de Educação (FE), Helena Maria Sant'Ana Sampaio, especializada em ensino superior privado. 

Helena Sant'Ana participou, na quarta-feira (18), do Seminário “Ensino superior privado: transformações e perspectivas”, promovido pelo Centro de Estudos Avançados (CEAV) da Unicamp.

“Já existe uma tradição de ensino superior privado no país e isso distingue o caso brasileiro de outros países onde estamos passando por esse processo de mercantilização da educação superior. Há uma grande concorrência entre as entidades privadas e os valores das mensalidades despencaram. Tem uma conjuntura nacional favorável aliada ao um fenômeno de âmbito mundial”, explicou.

A docente e pesquisadora, recém-contratada pela Unicamp, contribuiu para a formação nos anos 90 de um núcleo de ensino superior na Universidade de São Paulo (USP). “Eu estou chegando agora. É uma grande satisfação poder aproximar essa produção com a Unicamp. Houve uma confluência de interesses nessa área”, disse, sobre a sua participação no Grupo de Estudos em Ensino Superior (GEES), do CEAV.

O Seminário ministrado por Helena tratou das principais transformações do setor privado de ensino superior e a sua relação com o Estado, por meio das legislações específicas na área. Ela também analisou o mercado no país e qualidade do ensino superior privado.

 “O setor privado no Brasil sempre foi muito heterogêneo, inclusive do ponto de vista da qualidade. Algumas instituições que você chama de elite ainda se mantêm com um desempenho de razoável a bom. O que está aparecendo agora nessas novas instituições, nessas grandes redes, é o chamado ‘arroz com feijão’. Elas não são as piores dentre as privadas e também não são as melhores”, afirmou.

Ainda de acordo com Sant'Ana, desde a década de 70 o setor assumiu, no país, a função de complementaridade com o sistema público de ensino superior. Em 1979, conta, o setor privado, com predomínio de instituições particulares laicas, já respondia por mais de 60% do total de matrículas. Embora tivesse crescido no período, o setor público não o fez com a mesma intensidade e velocidade. “Ao optar pelo modelo de universidade, de ensino e pesquisa, os setores público e privado, de certo modo, passaram a dividir funções no sistema de ensino superior, instaurando, desde então, uma relação de complementaridade entre ambos”, confirmou.

A pesquisadora disse que a grande expansão do setor privado ocorreu entre os anos de 1960 e 1980 e teve como moldura legal a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 1961. A LDB reconhecia a organização do sistema em moldes não universitários, o que favoreceu a expansão de escolas superiores isoladas, justificou. Por outro lado, a lei instituía mecanismos burocráticos de controle na relação do ensino superior com o mercado que, àquela época, pressionava fortemente por mais vagas no sistema.

Fonte: Unicamp/Sílvio Anunciação

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